5 Sentidos

domingo, dezembro 17, 2006

Estrangeira

São-exactamente-duas-horas-e-seis-minutos.
Devia-estar-a-dormir...
Não-fossem-estas-insónias.
Repetidas,monotonas,desgastantes-e-atrofiantes.A-meu-ver,nada-têm-de-patológico.Representam-todo-um-conjunto-de-ideias-que,-ao-longo-do-dia,tento-ignorar,aniquilar,violar,para-que-não-perturbem-os-meus-afazeres.
Não-será-de-estranhar-que-quando-me-rendo-ao-cansaço-do-corpo-e-ao-conforto-da-cama,logo-essas-ideias-se-apressam-a-montar-espectáculo-e-vão-desfilando-à-minha-frente.
Hoje,a-mais-persistente,é-que-estou-de-
volta-a-casa.
Não-ontem,não-à-um-mês,não-à-dois-dias...Hoje-voltei-para-casa.
Depois-de-três-meses-de-transição-ilusória,tenho-de-assumir-que-estou-de-volta-ao-lar.Por-tempo-inderteminado.
É-bom...é...mau...assim-a-assim.
Uma-sensação-também-ela-pouco-explicável.
Aparte-da-Família,que-é-sempre-bom-rever-e-redescobrir,sinto-me-estrangeira-na-minha-própria-cidade,nas-relações-sociais-outrora-aí-estabelecidas-e-na-maneia-de-ver-e-sentir-o-que-neste-momento-me-rodeia.
Mais-uma-vez-repito,aparte-da-família.
Voltei-a-casa,as-tonalidades-mudaram,os-cheiros-mudaram,-as-filosofias-de-via-nem-se-fala....
m-a-família-está-lá-sempre...inelutável!
Todavia,não-consigo-deixar-me-de-concentrar-em-tudo-o-que-mudou.Preciso-de-um-dicionario-para-entender-a-nova-linguagem-dos-conhecidos-estranhos-que-me-trespassam-com-carinho-e-naturalidade.A-linguagem-do-consumo,da-intimidade-obscena-partilhada,das-aparências,das-saudades-fingidas,dos-segredos-mediáticos....uma-infinidade-de-atitudes-k-eu-não-consigo-controlar.
É-o-dia-de-estreia-da-peça,e-eu-estou-desorientada.Perdi-me-nos-camarins,entre-as-plumas,as-lantejoulas-e-os-tules-vistosos-que-encandeiam-a-vista.Esqueci-me-das-falas...não...afinal-sou-apenas-um-boneco-de-ventriloquo-de-fácil-manipulação.A-caracterização-desfigurou-me,transformando-me-num-ser-vulnerável-e-atingível.
O-sentimento-é-este.
Ser-estrangeiro-não-é-fácil!Ser-estrangeiro-no-proprio-país-e-na-cidade-Natal-assume-contornos-ridiculos-e-deprimentes.
Assusta-me-o-facto-de-não-encontrar-uma-mente-familiar-no-meio-da-multidão.
Pergunto-me(?)-onde-estão-os-valores(sem-radicalismos),que-em-juventude-defendiamos-e-asseguravamos-uma-luta-por-eles(?)
Repugno-me-a-mim-mesma-com-este-discurso-de-velha,de-cobarde,de-alguem-que-não-entra-na-debandada-social-obrigatória.Devia-deixar-me-ir.
Isto-se-não-quero-sentir-me-como-uma-estrangeira.
posted by Ana at 2:05 da manhã

1 Comments:

Foi precisamente isso que senti, quando regressei a casa: estrangeira. Desenraízada no sítio onde me deveria sentir mais erguida, sólida. Já passaram mais de cinco anos.
Sobrevive-se, arranjam-se solos onde fixar as raízes. Redescobrem-se possibilidades. Nem sempre é fácil. Mas, confesso-te, o trabalho ajuda.
É bom sinal sentires essa estranheza. Estranho seria não te sentires outra-mesma.

9:55 da tarde  

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